segunda-feira, 21 de novembro de 2016

       
       Esta estória tem uma história. Foi inspirada por uma criança que vi a brincar. Fala de uma guerra que pode se parecer com muitas por que passamos na vida, mas, é preciso deixar claro, não fala de todas - há muitos tipos de guerra, infelizmente. As ilustrações foram as primeiras que fiz, há muitos anos, quando comecei a estudar com o querido mestre Paulo Branco. 



O SOLDADO QUE NÃO QUERIA GUERREAR

Maria Rita Almeida Correa  


       Um dia, no meio de uma batalha, um dos soldados percebeu que estava cansado de lutar. Todo dia era aquilo: guerra, guerra, guerra...  Enquanto os outros continuavam atirando e se ferindo, ele armou ali mesmo uma cadeira espreguiçadeira (parecida com essas que a gente usa na praia, só que de pano) e sentou, se esparramando todo: "Ah!..."


 
    
  















Os outros pensaram que ele estava louco. Estava diferente de todo mundo!
       O sargento veio falar com ele: "Levanta daí! Vai batalhar, anda!"
       O soldado explicou que, afinal, aquela briga não era com ele. Que estava cansado, com fome e com medo de se machucar. E que não via pra quê.
       Aí o sargento ficou MUITO bravo...! Disse que não interessava o que ele achava, tinha de obedecer. Se fizesse tudo direitinho, ia ser herói; senão... 
"-Senão, o quê?"Senão,você morre!"



       O soldado bocejou, depois pensou que o outro podia  achar que era desrespeito e explicou que era sono de verdade. Falou que morrer ele na certa ia mesmo, se continuasse no meio da briga. Então, que o matassem e tudo bem (Era mentira, porque sabia que o sargento não ia fazer nada disso).  Mas no fundo ficou pensando... ele queria tanto ser herói! Todo mundo ia olhar pra ele com inveja... Ele ia ter medalhas de ouro e de bronze no peito do uniforme... Ele ia ser o máximo! Ele tinha de ganhar aquela guerra!





Enquanto os dois conversavam, os outros soldados começaram a se incomodar. Por que o sargento dava tanta atenção pra aquele lá? E por que ele tinha uma cadeira espreguiçadeira e eles não? Por que eles tinham de lutar e ele podia ficar descansando? Isso era muito injusto e ele estava sendo protegido e etc..




      O sargento ficou mais bravo ainda. Disse que ele tinha de pensar em tudo, que tinham um inimigo pra vencer e já estava ficando tarde, que não interessava o que eles sentiam, que pegassem suas armas de novo e começassem a atirar. Alguns obedeceram e o sargento ficou contente, ele gostava muito que obedecessem e fizessem o que ele queria, porque aí se sentia importante. Outros foram pedir pra usar um pouco a cadeira mas o soldado não deixou, disse que aquela era dele e não ia emprestar pra ninguém. E percebeu que se fosse lutar ia acabar perdendo a cadeira.



      A guerra começou de novo. Mas muita gente não estava mais participando, e sim, tentando fazer cadeiras espreguiçadeiras com as coisas que estavam nas trincheiras.  Era muito mais gostoso! As bombas caíam mas só atingiam os que ainda queriam lutar. "Socorro!" eles gritavam... E o inimigo vinha chegando!...






      Aí o exército inimigo chegou... O uniforme era igualzinho, mas de outra cor. O sargento deles também parecia muito mandão. Os soldados do começo da história se renderam. Aí... Os soldados inimigos viram os que estavam descansando nas cadeiras espreguiçadeiras. "Que legal!!!"  e...  "Por que só eles têm isso e nós não temos??? Nós também queremos!!! Nós lutamos melhor que eles, ganhamos a guerra, somos heróis e não temos cadeiras espreguiçadeiras! Não é justo...!" O sargento deles também ficou bravo mas acabou se cansando de discutir e foi fazer outra coisa.






     E no final da história, como a guerra já tinha acabado mesmo, todos se juntaram pra fazer uma boa limpeza no campo, armaram uma porção de cadeiras espreguiçadeiras e descansaram à vontade. Os soldados inimigos ganharam as medalhas, os outros não e ficaram com um pouco de inveja, mas depois acharam que isso não tinha tanta importância assim... e tudo terminou bem!